quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Ensaio de Economia Política: Discurso contraditório - Capitalismo é mesmo a arma contra pobreza?
Caroline Oliveira

Em tempos de leituras sobre Economia Política, achei uma matéria que foi publicada na Revista EXAME, que por sinal traz como matéria principal: a modernização econômica do Brasil, a qual o capitalista indiano Narayana Murthy relata que o "Capitalismo é a arma contra a pobreza" e que "a sociedade só poderá sair da pobreza por meio do empreendedorismo e capitalismo", além disso, indicou alguns rumos para a educação de países emergentes, que nada mais se resume do que fazer mais com menos custos (estratégias utilizadas por agências multilaterais, como o Banco Mundial, Cepal e Unesco). 

Ao ler as a Coluna da Revista Exame “Sete perguntas para Narayana Murthy”, fundador da Infosys, empresa indiana de TI que fatura 6 bilhões de dólares, veremos o discurso burguês dominante clarificado em suas posições. Veja a seguir:


"O capitalismo é a arma contra a pobreza"
Luciene Antunes (Revista Exame 19/09/2011)
EM VISITA AO BRASIL, PARA PARTICIPAR DA REUNIÃO ANUAL DO CONSELHO da escola de negócios Fundação Dom Cabral, Narayana Murthy, de 65 anos, um dos empresários asiáticos mais respeitados no Ocidente, defende que as empresas premiem seus funcionários com ações para incentivar o empreendedorismo.

1) O senhor é conhecido como um grande defensor da economia de mercado. Como isso começou? 

Particularmente para mim, não foi difícil passar de um esquerdista confuso para um capitalista determinado. Quando era jovem, fui trabalhar na França, onde entendi que a única maneira de tirar as sociedades da pobreza é por meio do empreendedorismo e do capitalismo. Ainda nos anos 70, decidi que precisava voltar para a Índia e defender esses conceitos. Foi a partir daí que fundamos a Infosys.

2) Qual é a sua receita para forjar uma cultura voltada para o empreendedorismo? 

É preciso melhorar os mecanismos de acesso ao capital para os empreendedores. A troca de experiências também é fundamental. E necessário criar uma plataforma em que empresários e empreendedores troquem conhecimentos, falem sobre suas dificuldades e sobre seus casos de sucesso.

3) E dentro das empresas? 

Os profissionais precisam se sentir valorizados e confiar uns nos outros. Para que a empresa prospere,é fundamental que um colega não tema ser traído por outro. E é preciso que haja a certeza de que todos vão fazer todo o possível para que a companhia dê certo. Uma das melhores formas de fazer isso é permitir que os funcionários possam comprar participação e se tornar sócios da empresa.

4) O senhor montou uma multinacional a partir da Índia. Quais são os maiores desafios dos países emergentes?

Um dos principais é justamente forjar uma cultura favorável ao empreendedorismo. É crucial criar um sistema de recompensa pelo trabalho bem-feito. Isso é ser capitalista.

5) No Brasil, assim como em outros emergentes, há uma escassez de talentos. Existe solução para esse problema? 

É curioso notar que ganhar escala e ter custo baixo, dois dos principais objetivos das empresas, é também importante na área da educação. Acredito que a tecnologia será decisiva nesse segmento. Recursos como a internet e as salas de tele presença permitem levar educação de qualidade para muitos alunos e a custos baixos. Esse é o caminho.

6) Em várias oportunidades, o senhor falou com admiração de empresas com várias décadas de existência. Por quê?

Uma empresa longeva já ultrapassou vários ciclos econômicos, sabe melhor como apertar o cinto em tempos difíceis e como crescer com dinamismo quando a economia vai bem. Nada atesta melhor o sucesso e a qualidade de uma corporação do que seus anos de existência.

7) Esse desafio é maior no setor de TI, onde tudo se transforma rapidamente?

Em todos os setores, há dois aspectos. Um deles é permanente: os valores. O segundo é a relevância para o cliente, algo que se transforma com o tempo. No meu setor, isso muda constantemente. O melhor antídoto para se manter relevante é a inovação.

Clique aqui: http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=752287

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A questão a se pensar é na contradição dos discursos desses capitalistas afirmando que a pobreza será solucionada por meio do capitalismo.
Como isso é possível se para a manutenção das riquezas acumuladas e concentradas nas mãos de poucos é necessário produzir e manter a pobreza de muitos? Como fazer esse tipo de afirmações se o modo de produção capitalista mantém o metabolismo do mercado mundial por meio da exclusão dos trabalhadores que detém a força de trabalho da apropriação de capital. 

Marx já nos deixava atentos para os discursos da burguesia quanto a perspectiva de produção da "riqueza burguesa"* ser evidenciada das relações contraditórias do modo de produção capitalista, sustentado pelas ideias dos economistas burgueses, como Narayana Murthy e tantos outros por aí. Assim, é hipocrisia burguesa afirmar o fim da pobreza com a manutenção do capitalismo enquanto Marx afirma que "o próprio capital é a contradição em processo [...]" (2011, p. 588) que trabalha pela própria dissolução da forma dominante, pois ao mesmo tempo que as relações de produção "[...] produz a riqueza, também se produz a miséria [...]" (MARX, 1982, p. 117). 

 *Marx (1982) define-a a riqueza burguesa como a riqueza da classe burguesa, destruindo continuamente a riqueza dos membros integrantes desta classe e produzindo um proletariado sempre crescente.  

Referências: 
MARX, K. A metafísica da economia política. In: ______. Miséria da filosofia: resposta à filosofia da Miséria do Sr. Proudhon. Tradução e Introdução de José Paulo Netto. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1982.

MARX, K. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2011.
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domingo, 18 de setembro de 2011

Marx estava certo... sobre o capitalismo


Marx estava certo... sobre o capitalismo

Atualizado em  18 de setembro, 2011 - 11:25 (Brasília) 14:25 GMT
Foto: Getty
Marx pode ter errado sobre o comunismo, mas estava certo sobre o capitalismo, diz Gray
Como efeito colateral da crise financeira, mais e mais pessoas estão começando a pensar que Karl Marx estava certo. O grande filósofo, economista e revolucionário alemão do século 19 acreditava que o capitalismo era radicalmente instável.
Ele tem uma tendência intrínseca de produzir avanços e fracassos cada vez maiores, e no longo prazo, ele estava destinado a se autodestruir.
Marx saudava a autodestruição do capitalismo. Ele era confiante que uma revolução popular ocorreria e daria origem um sistema comunista que seria mais produtivo e muito mais humano.
Marx estava errado sobre o comunismo. Aquilo sobre o que ele estava profeticamente certo era a sua compreensão da revolução do capitalismo. Não era somente a instabilidade endêmica do capitalismo que ele compreendia, embora neste sentido ele fosse muito mais perspicaz do que a maioria dos economistas da sua época e da nossa.
Mais profundamente, Marx compreendeu como o capitalismo destrói a sua própria base social - o meio de vida da classe média. A terminologia marxista de burguês e proletário tem um tom arcaico.
Mas quando ele argumentava que o capitalismo iria arrastar as classes médias a algo parecido com a existência precária dos sobrecarregados trabalhadores de sua época, Marx previu uma mudança na maneira como vivemos à qual só agora estamos lutando para nos adaptarmos.
Karl Marx
Marx escreveu o Manifesto Comunista com Friedrich Engels
Ele via o capitalismo como o sistema econômico mais revolucionário da história, e não pode haver dúvida de que ele se diferencia daqueles que vieram antes dele.
Os caçadores e coletores persistiram nesta forma de vida por milhares de anos, enquanto as culturas escravagistas permaneceram assim por quase o mesmo tempo, e as sociedades feudais sobreviveram por muitos séculos. Em contraste, o capitalismo transforma tudo que ele toca.
Não são só as marcas que estão mudando constantemente. As empresas e as indústrias são criadas e destruídas em um fluxo incessante de inovação, enquanto as relações humanas são dissolvidas e reinventadas em novas formas.
O capitalismo foi descrito como um processo de destruição criativa, e ninguém pode negar que ele foi prodigiosamente produtivo. Praticamente qualquer um que esteja vivo na Grã-Bretanha hoje tem uma renda real maior do que eles teriam se o capitalismo nunca tivesse existido.
Retorno negativo
O problema é que entre as coisas que foram destruídas no processo está o estilo de vida do qual o capitalismo dependia no passado.
Defensores do capitalismo argumentam que ele oferece a todos os benefícios que, na época de Marx, eram desfrutados somente pela burguesia, a classe média estabelecida que possuía capital e tinha um razoável nível de segurança e liberdade em suas vidas.
No capitalismo do século 19, a maioria das pessoas não tinha nada. Elas viviam de vender o seu trabalho, e quando os mercados entravam em queda, eles enfrentavam tempos difíceis. Mas à medida que o capitalismo evolui, seus defensores dizem, um número crescente de pessoas pode se beneficiar dele.
Foto: AFP
Os mercados apresentam muita volatilidade
Carreiras bem-sucedidas não serão mais a prerrogativa de uns poucos. As pessoas não terão dificuldades todo mês para subsistir com base em um salário inseguro. Protegidos pelas economias, pela casa que possume e uma pensão decente, eles serão capazes de planejar suas vidas sem medo.
Com o crescimento da democracia e a distribuição da riqueza, ninguém precisará ser privado da vida burguesa. Todo mundo poderá ser da classe média.
Na verdade, na Grã-Bretanha, nos EUA e em muitos outros países desenvolvidos nos últimos 20 ou 30 anos, o contrário vem ocorrendo. A segurança do emprego não existe, as atividades e as profissões do passado em grande parte acabaram e as carreiras que duram uma vida inteira são meramente lembranças.
Se as pessoas têm qualquer riqueza, isto está nas suas casas, mas os preços dos imóveis nem sempre crescem. Quando o crédito fica restrito como agora, eles podem ficar estagnados por anos. Uma minoria cada vez menor pode contar com uma pensão com a qual pode viver confortavelmente, e não são muitos os que tem economias significativas.
Mais e mais pessoas vivem um dia de cada vez, com pouca noção do que o futuro pode reservar. AS pessoas da classe média costumavam imaginar as suas vidas desdobradas em uma progressão ordenada. Mas não é mais possível olhar para uma vida como uma sucessão de estágios em que cada um é um passo dado a partir do último.
No processo da destruição criativa, a escada foi afastada, e para um número cada vez maior de pessoas, uma existência de classe média não é mais sequer uma aspiração.
Assumindo riscos
Enquanto o capitalismo avançava, ele devolveu as pessoas a uma nova versão da existência precária do proletariado de Marx. As nossas rendas são muito maiores, e em algum grau nós estamos protegidos contra os choques por aquilo que resta do Estado de bem-estar social do pós-guerra.
Mas nós temos muito pouco controle efetivo sobre o curso das nossas vidas, e a incerteza na qual vivemos está sendo piorada pelas políticas voltadas para lidar com a crise financeira.
As taxas de juros a zero em meio a preços crescentes querem dizer que as pessoas estão tendo um retorno negativo de seu dinheiro, e ao longo do tempo o seu capital está se erodindo.
"Hoje, não existe o porto seguro. As rotações do mercado são tais que ninguém pode saber o que terá valor dentro de alguns anos."
John Gray, filósofo político
A situação de muitas das pessoas mais jovens é ainda pior. Para adquirir os talentos de que precisa, a pessoa tem de se endividar. Já que em algum ponto será necessário se reciclar, é preciso tentar economizar, mas se a pessoa está endividada desde o começo, esta é a última coisa que ela poderá fazer.
Não importa a sua idade, a perspectiva que a maioria das pessoas enfrenta é de uma vida de insegurança.
Ao mesmo tempo em que privou as pessoas da segurança da vida burguesa, o capitalismo criou o tipo de pessoa que vive a obsoleta vida burguesa. Nos anos 80, havia muita conversa sobre valores vitorianos, e propagandistas do livre mercado costumavam argumentar que ele traria de volta para nós os íntegros valores de outrora.
Para muitos, as mulheres e os pobres, por exemplo, estes valores vitorianos podem ser bastante ilógicos em seus efeitos. Mas o fato mais importante é que o livre mercado funciona para corroer as virtudes que mantêm a vida burguesa.
Quando as economias estão se perdendo, ser econômico pode ser o caminho para a ruína. É a pessoa que toma pesados empréstimos e não tem medo de declarar a insolvência que sobrevive e consegue prosperar.
Quando o mercado de trabalho está altamente volátil, não são aqueles que se mantém obedientemente fiéis a sua tarefa que são bem-sucedidos, e sim as pessoas que estão sempre prontas para tentar algo novo e que parece mais promissor.
Em uma sociedade que está sendo continuamente transformada pelas forças do mercado, os valores tradicionais são disfuncionais, e qualquer um que tentar viver com base neles está arriscado a acabar no ferro-velho.
Vasta riqueza
Olhando para um futuro no qual o mercado permeia cada canto da vida, Marx escreveu no 'Manifesto Comunista': "Tudo que é sólido se desmancha no ar". Para alguém que vivia na Grã-Bretanha no início do período vitoriano - o Manifesto foi publicado em 1848 -, isto era uma observação incrivelmente perspicaz.
Naquela época, nada parecia mais sólido que a sociedade às margens daquela em que Marx vivia. Um século e meio depois, nos encontramos no mundo que ele previu, onde a vida de todo mundo é experimental e provisória, e a ruína súbita pode ocorrer a qualquer momento.
Foto: AFP
Medidas de austeridade para reduzir dívida grega acabaram em revoltas
Uns poucos acumularam uma vasta riqueza, mas mesmo isso tem uma característica evanescente, quase espectral. Na época vitoriana, os muito ricos podiam relaxar, desde que eles fossem conservadores com a maneira como eles investiam seu dinheiro. Quando os heróis dos romances de Dickens finalmente recebem sua herança, eles nunca mais fazem nada na vida.
Hoje, não existe o porto seguro. As rotações do mercado são tais que ninguém pode saber o que terá valor dentro de alguns anos.
Este estado de inquietação perpétua é a revolução permanente do capitalismo, e eu acho que ele vai ficar conosco em qualquer futuro que seja realisticamente imaginável. Nós estamos apenas no meio do caminho de uma crise financeira que ainda deixará muitas coisas de cabeça para baixo.
As moedas e os governos provavelmente ficarão de ponta-cabeça, junto de partes do sistema financeiro que nós acreditávamos estar a salvo. Os riscos que ameaçavam congelar a economia mundial apenas três anos atrás não foram enfrentados. Eles foram simplesmente deslocados para os Estados.
Não importa o que políticos nos digam sobre a necessidade de controlar o déficit. Dívidas do tamanho das que foram contraídas não podem ser pagas. Elas quase que certamente serão infladas - um processo que está destinado a ser doloroso e empobrecedor para muitos.
O resultado só pode ser mais revoltas, em uma escala ainda maior. Mas isto não será o fim do mundo, ou mesmo do capitalismo. Aconteça o que acontecer, nós ainda teremos que aprender a viver com a energia mercurial que o mercado emitiu.
O capitalismo levou a uma revolução, mas não a que Marx esperava. O feroz pensador alemão odiava a vida burguesa e queria que o comunismo a destruísse. E assim como ele previu, o mundo burguês foi destruído.
Mas não foi o comunismo que conseguiu esta proeza. Foi o capitalismo que eliminou a burguesia.http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/09/110918_marx_capitalismo_jf.shtml

um passeio pelos principais temas que a sociedade brasileira enfrentará, obrigatoriamente, nos próximos anos. Começamos falando sobre as eleições e uma recente entrevista de Stédile ao Brasil de Fato que o Viomundo reproduziu.


2 de setembro de 2010 às 4:37

Stédile: Globo faz parte da associação do agronegócio

Foto Manuela Azenha
João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está otimista. Depois da derrota eleitoral de Lula, em 1989, ele acredita que os movimentos sociais brasileiros enfrentaram um longo período de hibernação. Hoje, no entanto, ele acredita que estejam novamente em ascensão. Identifica no apoio da maior parte deles a Dilma Rousseff uma unidade que há muito não via, a ponto da candidata reunir em torno dela apoios que nem mesmo Lula conseguiu, em 2002 e 2006.
Na noite desta quarta-feira João Pedro nos recebeu no casarão que é sede do MST em São Paulo, uma propriedade que foi comprada com dinheiro arrecadado pelo fotógrafo Sebastião Salgado em uma exposição internacional de fotos do movimento. Ele agora está de olho em um galpão industrial do bairro, que gostaria de transformar em um centro cultural. O MST faz muitos outros planos: a produção de arroz e suco de uva orgânicos para servir na merenda escolar, um projeto para a alfabetização de adultos e a formação universitária dos sem terra estão entre eles (o movimento já “formou” dez doutores).
Sobre a ascensão dos movimentos sociais:
Viomundo: Bom, vamos lá começar então perguntando sobre a conjuntura política. Eu li o seu artigo sobre a necessidade dos movimentos sociais apoiarem a candidatura da Dilma. Por que essa sua posição?
Stédile: A maioria dos movimentos não fizeram um debate explícito sobre a quem apoiar, para preservar uma certa autonomia, ou seja, como não somos partidos políticos — e mesmo o movimento sindical, mesmo a UNE na sua plenária ela definiu contra o Serra, mas sem indicação de voto — porque a rigor a nossa base deve votar de acordo com a sua consciência, aqui não é um comitê central que decide vota em fulano e todo mundo baixa a cabeça. A natureza do movimento social é muito mais ampla. No entanto, eu acho que se criou um ambiente político no Brasil nos últimos meses que levou a que 90% dos movimentos sociais aregaçassem as mangas e trabalhassem contra o Serra e a favor da Dilma, na perspectiva de que num governo Dilma vai ter uma correlação de forças mais propícia para fazer a luta social e para apresentar propostas de mudanças estruturais, que é o que a sociedade brasileira precisa.
Viomundo: Que propostas você acredita sejam as mais importantes?
Stédile: Ah nos vários campos. Por exemplo, na política economia. Não basta seguir mais quatro anos do mesmo. Nós precisamos enfrentar radicalmente o problema do superávit primário. Nenhum país do mundo pratica — dos países grandes, de economias grandes — pratica superávit primário, só Brasil e Argentina. Por que manter essa política que na verdade é um processo de apropriação da poupança nacional, que é recolhida na forma de impostos de todo mundo, de forma compulsória, vai para a Receita Federal e a Receita Federal separa 26% para pagar juro? Eu espero que o governo inclusive tenha aprendido com a crise do ano passado, porque o que salvou o Brasil de um efeito mais grave na economia foi que o Lula sabiamente tirou 100 bilhões do superávit primário e botou no BNDES e esses 100 bilhões foi que garantiu o crescimento econômico, ou seja, ele foi direcionado para investimentos produtivos.
Bem, o tema dos juros — é um absurdo a taxa de juros atual, não só a Selic, que é [a taxa] que o governo paga, mas sobretudo o que as pessoas e empresas pagam. Cartão de crédito no Brasil, que é o que financia o consumo da classe média, com taxa de juro de 190% ao ano, mas nem na crise de 19 no período do Hitler, que justificou a ditadura dele, havia uma taxa de juro tão alta, real, isso tem que mudar.
Tem que mudar a jornada de trabalho. Na conjuntura anterior nós não tivemos força para emplacar 40 horas. Eu acho que agora nós vamos ter unidade de todas as centrais, dos movimentos sociais para fazer um movimento mais vigoroso e emplacar a jornada de trabalho. Então, você veja, só esses três aspectos na política econômica, isso altera a correlação de forças na sociedade. Isso significaria mais distribuição de renda para os trabalhadores, melhores condições para os que produzem a riqueza.
Bem, na agricultura nós temos vários pontos que são fundamentais para mudar. Desde acelerar a reforma agrária, porque nós não temos reforma agrária atualmente, nós temos uma política de assentamentos, que ela é mais direcionada a resolver problemas sociais. Então, quando tem um conflito em determinada região, o governo vai lá, desapropria uma fazenda e desanuvia. Mas isso não é reforma agrária, reforma agrária é quando tem uma política propositiva que o governo se antecipa para garantir que todos os que querem trabalhar na terra tenham acesso à terra. Para isso ele tem de tomar iniciativa e desapropriar os maiores latifúndios. Só assim vai haver uma desconcentração da propriedade. O dado do Censo de 2006 revelou que a concentração atual da propriedade da terra é maior do que em 1920. Na semana passada o presidente do Incra teve a lucidez de revelar um dado que não está publicado ainda nos cadastros do Incra, de que há uma avalanche de empresas brasileiras indo aplicar o seu dinheiro, se proteger em patrimônio-terra. E hoje há 177 milhões de ha em propriedades de capitalistas que moram na cidade, de empresários, ou seja, são empresas industriais, bancos, que são donos de terra, que a rigor não é o seu meio de produção.
Também nós temos no problema da terra o tema do modelo do agronegócio, que ele é insustentável a longo prazo, porque o agronegócio ele só consegue produzir com mecanização intensiva e isso expulsa a mão-de-obra. Há dez anos havia 6 milhões de assalariados agrícolas no Brasil. Hoje, se reduziram a 1,6 milhão. E com o uso intensivo de agrotóxicos. E o veneno, por ser de origem química, não é biodegradável. Ele acaba com o solo, contamina a água ou, pior ainda, fica nos alimentos e vai se transformar em câncer.
Um balanço dos assentamentos no governo Lula:
O programa de educação do MST para o campo:
O suco de uva do MST (e a Globo na associação do agronegócio!):
Como driblar o bloqueio da mídia corporativa